Da Pedra ao Futuro: Mineração, Consciência Ambiental e Turismo em São Thomé das Letras e Sobradinho de Minas
Durante décadas, a economia de São Thomé das Letras e de seu distrito Sobradinho de Minas girou em torno de um recurso abundante: a mineração da pedra São Tomé. A extração desse quartzito, amplamente utilizado na construção civil e decoração, moldou não apenas a paisagem de toda a região, como também o estilo de vida da população local.
Ao longo do tempo os impactos ambientais se tornaram visíveis. Trilhas devastadas, paisagem destruída, vegetação devastada e um ecossistema ameaçado colocaram em pauta a necessidade de repensar o modelo de exploração. Hoje, novas vozes se levantam em defesa de um futuro onde turismo consciente e sustentabilidade possam caminhar lado a lado com a história da região.
📑 Índice
E chegou a mineração…
O povoado de São Thomé surgiu no topo de uma montanha de quartzito, que começou a ser explorada comercialmente no século XX. Antes desse período, a pedra era usada, principalmente, para construção de muros, moradias, comércios e instituições locais, como igrejas e escolas.
Foi então, que e em meados da década de 1940 que um geólogo de minas chamado Josiel Cerqueira Luz visitou a região e constatou que São Thomé das Letras estava situada em cima de um enorme depósito de quartzito. E o melhor, essa enorme jazida era de fácil exploração.
O crescimento de São Thomé, então distrito da cidade de Baependi, se deu a partir da retirada e mineração do quartzito. A vila que antes era praticamente isolada, no alto da Serra das Letras, passou a ter estrada para o escoamento das pedras. A emancipação política veio apenas na década de 1980. A economia era baseada na crescente indústria da mineração.
Com o uso de tecnologia mas também de muito trabalho manual, a partir de 1970, a exploração de quartzito aumentou significativamente e a “mineração da pedra São Tomé” tornou-se, no centro-sul do país, uma das prediletas para para diversas aplicações, como revestir fachadas, pisos e áreas de piscina e muito mais.
Nessa mesma época que o cenário misterioso de uma cidade de pedras começou a despertar interesse de visitantes que chegavam atraídos pelo jeito meio que estilo medieval de uma comunidade que via com estranheza a chegada de pessoas diferentes. Quem vinha a trabalho, para a retirada da pedra, normalmente dormia em ranchos, em pequenas casas com paredes e telhados literalmente de pedras. Pessoas passeando pelas ruas, buscando lugar para se hospedar e puxando conversa com os moradores eram incomuns até então.
Quem são esses “estranhos” visitantes?
Aos poucos, a fama de que a cidade abriga um dos portais energéticos do planeta começou a atrair místicos, turistas e estudiosos de ufologia de várias partes do país e do mundo.
A fama começou a crescer quando a cidade que já tinha inspirado a peça teatral “Pedreira das Almas”, de Jorge de Andrade, também foi cenário de vários documentários e da minissérie “Filhos do Sol”, escrita por Walcyr Carrasco e produzida pela TV Manchete. Estamos no início da década de 1990 e, uma “onda hippie” cresceu em São Thomé das Letras e a partir daí o turismo não parou mais, hoje em 2025 é considerada a cidade mais mística do Brasil.
Mineração e Turismo: Dá para coexistir?
Existem vários exemplos de municípios mineiros que agregaram o turismo como fonte de renda após o fechamento de minas exploradas. Mas como é a coexistência do turismo e a mineração acontecendo ao mesmo tempo?
Essa é a realidade de São Thomé das Letras desde o início do novo milênio.
Na década de 2.000 o número de turistas dobrava a cada ano e a mineração entrou em expansão com a chegada de empresas estrangeiras para retirar e levar a pedra São Tomé para o mercado internacional, principalmente o europeu.
Não há como negar que a atividade mineração de pedra São Tomé teve enorme importância no desenvolvimento econômico e social da cidade. Praticamente toda a mão de obra masculina passou a trabalhar nas pedreiras, desde o início da exploração. E até o início dos anos 2.000 quando o turismo começou a ganhar peso na balança da economia municipal, até então, a atividade mineradora começa a deixar de ser uma grande empregadora em São Thomé.
A questão é que a exploração mineral avançou sem qualquer fiscalização efetiva sobre os danos ambientais. A flora e a fauna que habitam o Campo Rupestre no topo da Serra das Letras, antes conhecida como a Serra de Itaguatiara, foram praticamente dizimadas pela extração. Esse tipo de ecossistema, típico do Cerrado, ocupa cerca de 1% do território brasileiro e, ainda assim, compreende 15% de todas as espécies de plantas do país.
E como fazer, já que a destruição cada vez mais consistente vai de encontro com o segundo setor mais rentável do município, o turismo?
Nos últimos anos, a comunidade começou a perceber a necessidade de proteger o que ainda resta. Moradores, pousadeiros e guias locais passaram a defender uma economia baseada no turismo sustentável e consciente, onde a natureza é o principal atrativo — e não o recurso a ser extraído.
As trilhas passaram a ser reabertas com cuidado, o lixo retirado manualmente, e ações educativas vêm sendo promovidas para conscientizar moradores e turistas. São diversas cachoeiras, grutas, poços, além de locais turísticos como mirantes, cruzeiros e parques ecológicos protegidos, além disso São Thomé das Letras e Sobradinho de Minas também exploram o potencial do turismo religioso católico, histórias e lendas interessantes, é parte do caminho da fé da estrada Real. Acesse nosso artigo para saber mais.
Assista o documentário do ano de 1975 que aborda essa realidade e a perspectiva na época “Flor Pedra” e a reportagem “Série Sobre Pedras” mostram como a ausência de fiscalização e o descontrole da mineração colocaram a cidade em alerta. Assista os vídeos logo abaixo.
A Gruta Labirinto como exemplo de uso sustentável
Um exemplo claro de reconversão ecológica é a Gruta Labirinto, localizada em Sobradinho. O local, que no passado foi ameaçado pela mineração, hoje é preservado e cuidado como um santuário natural e com visitação controlada.
Com sistema de day-use, guias locais, equipamentos de segurança e limitação de visitantes, a gruta oferece:
- Travessia segura sem alterar a estrutura natural
- Educação ambiental durante o passeio
- Banho em poços naturais e sem produtos químicos
- Apoio à economia local com restaurante e empregos direto.
A Gruta Labirinto mostra que é possível gerar renda preservando de forma consciente e sustentável.
📌 Leia também: Como funciona a visita à Gruta Labirinto
Preservar é evoluir
Pois é, São Thomé das Letras e Sobradinho de Minas viveram tempos difíceis sob o peso da mineração desenfreada. Mas a transformação já começou e novos tempos prometem uma preservação mais consciente, pois cabe a todos nós — visitantes, moradores, empresários e autoridades — garantir que o futuro seja guiado sempre por respeito, equilíbrio e conexão com a natureza encantadora de toda a região.
👉 Visite, aprenda e respeite. A natureza agradece, e a experiência será ainda mais rica. 😉
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🔎 Fontes e Referências
- Documentário “Flor Pedra” – Direção: Tato Taborda | Produção: Embrafilme – YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=_RF_2rzdshI
- Reportagem “Série Sobre Rochas – 2ª temporada” – Dailymotion: https://www.dailymotion.com/video/x30sdjx
- 🌐 Informações complementares sobre mineração de quartzito e impactos ambientais em cavernas:
Artigos do Instituto Chico Mendes (ICMBio), IBGE e publicações regionais sobre a pedra São Tomé. - Imagem capa crédito: Revista Espacios
- Relatos locais e observações de campo da equipe editorial
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